Monday, May 31, 2010

FRIENDS

Friday, May 21, 2010

MÚSICA

Wednesday, April 21, 2010

ANEDOTAS

JESUS CRISTO NUM HOSPITAL PORTUGUÊS



Jesus Cristo, cansado do tédio do Paraíso, resolveu voltar à terra para fazer o bem. Procurou o melhor lugar para descer e optou pelo Hospital de S. Francisco Xavier, onde viu um médico a trabalhar há muitas horas e a morrer de cansaço.
Para não atrair as atenções, decidiu ir vestido de médico. Jesus Cristo entrou de bata, passando pela fila de pacientes no corredor, até atingir o gabinete do médico. Os pacientes viram e comentaram: - Olha, vai mudar o turno...
Jesus Cristo entrou na sala e disse ao médico que podia sair, dado que ele mesmo iria assegurar o serviço. E, decidido, gritou:
- O PRÓXIMO!
Entrou no gabinete um homem paraplégico que se deslocava numa cadeira de rodas.
Jesus Cristo levantou-se, olhou bem para o homem, e com a palma da mão direita sobre a sua cabeça disse:
- LEVANTA-TE E ANDA!
O homem levantou-se, andou e saiu do gabinete empurrando a cadeira de rodas. Quando chegou ao corredor, o próximo da fila perguntou:
- Que tal é o médico novo?
Ele respondeu:
- Igualzinho aos outros... nem exames, nem análises, nem medicamentos... Nada! Só querem é despachar...

Monday, April 03, 2006

POESIA DE AUTORES

CASTILHO
OS TREZE ANOS

Já tenho treze anos
que os fiz por Janeiro,
madrinha casai – me
com Pedro Gaiteiro

Já sou mulherzinha
já trago sombreiro
já bailo ao domingo
coas mais no terreiro.

Já não sou Anita
como era primeiro;
sou a Senhora Ana
que mora no oiteiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro
já não me dá beijos
qualquer passageiro

Quando levo as patas
e as lanço ao ribeiro
olho tudo à volta
de cima do oiteiro;

e só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho côas patas
ao pé do salgueiro.

Miro – me nas águas,
rostinho trigueiro
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro – me, olhos pretos
e um riso fagueiro
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro,
me vejo mui outra
da que era primeiro

O meu gibão largo
de arminho e cordeiro
já o dei à neta
do Brás cabaneiro

dizendo – lhe:«Toma
gibão domingueiro
de ilhoses de prata
de arminho e cordeiro.

A mim já me aperta,
e a ti te é lasseiro
tu brincas côas outras
e eu danço em terreiro.»

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já tenho treze anos
que os fiz por Janeiro.
...

...

CASTILHO
LOS TRECE AÑOS

Ya tengo trece anos
Que los hizo por enero
Madrina casa me
Con Pedro gaitero.

Ya soy mujercita,
Paraguas y sombrero
Ya bailo al domingo
Todo el año entero

Ya non soy Anita
Como era primero
Soy la doña Ana
Que mora en el otero

En las fiestas ya canto
En los mercados ya ferio
Ya no me da besos
Cualquier pasajero

Cuando llevo las patas
E las lanzo al ribero
Miro tudo cerca
Del cimo del oitero

E solo se no veo
Ninguno por la playa
Me baño con las patas
Cerca de la faya

Miro me en las aguas
Rostrito matreiro
Que mata de amores
A mucho vaquero

Miro me, ojos prietos
E una risa de unción
Que dice la cantiga
Que son prevención

En todo madrina
Ya concluyente
Me veo mucho otra
Do que antiguamente

Mi capotillo largo
De armiño e cordero
Ya lo di a la nieta
del Blas cabañero

Diciendo – le: Toma
Capotillo dominguero
De argollas de plata
De armiño y cordero

A mí ya me aprieta
Y a ti te es holgado
Tu Brincas con las otras
Y yo Danzo en descampado

Ya soy mujercita
Ya trago sombrero;
Ya tengo trece años
Que los hizo por enero.

Ya non sou Anita,
soy la Ana do Oiteiro:
madrinha casai – me
com Pedro Gaiteiro

Não queiro o sargento
que é muito guerreiro,
de babas mui feras
e olha sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão pouco me agrado
Do pobre moleiro
Que vive na azenha
como um prisioneiro

Marido pretendo
de disposição galhofeiro,
que viva por festas
que brilhe em terreiro;

Que em ele assomando
co tamborileiro
logo se alvorote
o lugar inteiro;

Que todos acorram
por vê – lo primeiro
e todas perguntem
se ainda é solteiro

E eu sempre com ele
romeira e romeiro,
vivendo de bodas
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
Ai, céu verdadeiro!
Ai, Páscoa florida
que dura o ano inteiro

Da parte madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai – me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro

No soy más Anita
Soy la Ana del Otero
Madrina casa me
Con Pedro Gaitero

No quiero el sargento
Que es muy batallador
De barbas hórridas
Y mirar superior.

El minero es viejo
No quiero el minero;
Más valen trece años
Que todo el dinero

Tan poco me agrado
Del pobre molero
Que vive en el molino
Como un prisionero

Marido pretendo
De humor gallofero,
Que viva por fiestas
Que brille en terrero

Que en él asomando
Con el tamborilero
luego se alborote
el lugar entero

Que todos acorran
por verlo primero
Y todas pregunten
se inda es soltero

Y yo siempre con él
romera y romero
Viviendo de bodas
y bailando al pandero

Ay vida de gustos ,
Ay cielo verdadero
Ay pascua florida
que dura el año entero!

De la parte, madrina
De dios te requiero
Casa me hoy mismo
Con Pedro Gaitero

...

FERNANDO PESSOA
(1888 - 1935)
Fernando António Nogueira Pessoa, extraordinário poeta e uma das personalidades mais complexas de mais representativas da literatura europeia do século XX. A mãe contraiu segundas núpcias e m 1895 (viúva em 1893) que seguiu o marido a Durban (África do Sul), onde o futuro poeta fez os seus estudos na Universidade do Cabo (1903/04) dominado, portanto, igualmente bem a língua e literatura inglesa.
Retraído, com vocação para viver isolado, sem compromissos, sempre disponível para as aventuras do espírito, trabalha, desde 1908 até à sua morte, como correspondente comercial de várias firmas.
Quanto à vida sentimental apenas se lhe conhece o namoro de uma dactilógrafa que durou poucos meses.
Define –se como «histero - neurasténico» com a predominância do elemento histérico na emoção e do elemento neurasténico na inteligência e na vontade (minuciosidade de uma , tibieza de outra).Extremamente lúcido (é o poeta que mais se aproxima de Valéry), mentaliza as emoções e, por inteiro votado à literatura, a ela reduz os seu s pretensos ataques de histeria.
Em 1912 escreve na revista Águia uma série de artigos sobre a nova poesia portuguesa (Saudosismo) animados de optimismo messiânico (public. em opúsculos em Lisboa, 1944).
Com o desenvolver da sua poesia vai ser um dos introdutores do Modernismo e europeu em Portugal com Sá Carneiro, Almada, Raul Leal e outros.
Com a sua poesia «Ó sino da minha aldeia »já anuncia o seu lirismo claro, simples, leve mas penetrante música da alma
qingue é o timbre de Pessoa ortónimo.
Em 1914 aparecem os primeiros heterónimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis e m 1915 vem a lume a revista Orpheu de que F.P. é um dos directores.
Pessoa exprime ou insinua a solidão interior, a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, o tédio, a falta de impulsos afectivos de que, minado pelo demónio da análise , já nada espera da vida - ou então os vagos acenos do inefável, o breve acordar da infância, a magia da voz que se cala, mal o poeta se põe a escutar.
A dispersão da sua obra, feita de linguagem em liberdade, é vivo testemunho de uma época de crise sem coesão construtiva.

...


O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu – se a voar;
À roda da nau voou três vezes, voou três vezes a chiar, e disse: - «Quem é que ousou entrar nas minhas cavernas que não desvendo, meus tectos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo:
- «El – Rei D. João Segundo!»
- «De quem soa as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
- disse o mostrengo, e rodou três vezes,
três vezes rodou imundo e grosso.
- «Quem vem poder o que só eu posso,
que moro onde nunca ninguém me visse
e escorro os medos do mar sem fundo?»




E o homem do leme tremeu e disse:
- “El – Rei Dom João Segundo!”
Três vezes ao leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
- «Aqui ao leme sou mais do que eu:
sou um povo que quer o mar que é teu;
e mais que o mostrengo que me a alma teme
e roda nas treva do fim do mundo,
manda a vontade que me ata ao leme,
de El – Rei Dom João Segundo!»


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu.
Ma nele é que espelhou o céu.

...

...

AS MINHAS ASAS

Eu tenha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em estando cansado da terra,
batia – as, voava ao céu.
- Eram brancas, brancas, brancas,
como as do anjo que mas deu.
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.

Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
Veio a ambição coas grandezas davam - me poder e glória vinham para mascortar

por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Ass que um anjo me deu,
Em eu me cansando da terra
Batia – as voava ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra
Ia voar para elas,
- deixei descair os olhos
do céu alto e das estrelas…
Vi, entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.

Cegou – me essa luz funesta
De enfeitiçados amores…
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
- Tudo perdi nessa hora
que provei nos meus amores
o doce fel do deleite,
o acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena me caíram…
Nunca mais voei ao céu.
...

...
SOFIA DE MELO BREYNER ANDERSON – Poeta do mundo exterior e da realidade metafísica, da consubstanciação profunda com o real múltiplo – verdadeiro poeta pagão, no que esta palavra possa ter de mais grave, sacral. A sua poesia é de raiz trágica pois tem a lucidez constante e agudíssima das antinomias. A sua fome de infinito é um desejo de realização e não de fuga. – Alberto Lacerda – Távola Redonda – Fascículo 7

Coral
.
QUERO

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar – me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar – te,
E dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
...

...

FLORBELA ESPANCA

No soneto atinge o poeta uma admirável e rara variedade. Deve advertir – se que, pela sua brevidade e pela sua estrutura, o soneto se presta a exercícios de engenho, como o vilancete e outras formas tradicionais; embora, por outro lado, a sua disposição em duas quadras e dois tercetos favoreça um discurso em tese e antítese, seguidas de conclusão e desfecho sentencioso; e, por outro ainda, essa mesma brevidade seja apropriada a uma grande e concentração emocional. Por isso o soneto foi preferido por poetas tão diferentes como Sóror Violante do Céu, Antero de Quental e Florbela Espanca. Camões usa largamente essa disponibilidade, variando imensamente o seu modo fraseológico, numa gama que, por exemplo, se estende desde a aparente narrativa unilinear de Sete anos de pastor Jacob servia até à plangência magoada dos tercetos de Alma minha gentil, à reflexão profundamente pré – hegeliana de Mudam se os tempos mudam – se as vontades e ao remate subtilmente integrante de Busque amor novas artes, novo engenho, aparente jogo da de analogias conceitos.
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa em 8/12/1895 e aí também faleceu quando, curiosamente fazia 35 anos em 8/12/1930. Sonetista com laivos parnasianos esteticista, é uma das mais notáveis personalidades líricas isoladas, pela intensidade de um transcendido erotismo feminino sem precedentes entre nós, com tonalidades ora egotistas (1) ora de uma sublimada abnegação reminiscente de Sóror Mariana, ora de uma expansão panteísta (2) que se vai casar com a ardência da charneca natal. A sua obra lírica que principiou a ser editada em 1919 (Livro das Mágoas), perfez em 1965 onze edições de Sonetos Completos; precede, portanto, de longe e estimula o movimento de emancipação literário da mulher, exprimindo nos seus acentos mais patéticos a imensa frustração, não só feminina como masculina, das nossas opressivas tradições patriarcais que têm na Carta de Guia de casados o seu monumento clássico.
(1) – Egotista – que tem um sentimento exagerado do seu valor pessoal; que dá provas de egotismo; vaidoso.
Egotismo – Tendência de uma pessoa para falar só de si, para se supervalorizar; culto do eu; = narcisismo; subjectivismo.
(2) - Panteísmo – doutrina metafísica segundo ao qual Deus e o mundo formam uma unidade. Para o panteísmo Deus é inerente ao mundo, não distinto deste; tendência para considerar a natureza como um ser divino, dotado de uma unidade vital e dinâmica.

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RÚSTICA

...

Ser a moça mais linda do povoado;
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho;
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho;

Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho;
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho;

Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna,
Quando descer à terra da verdade…

Meu Deus, dai – me esta calma, esta pobreza!
Dou por ela meu trono de Princesa
E todos os meus reinos de Ansiedade.